Carneiro, bode, chifres e nitsdaq: uma análise intertextual de Daniel 8

Autores/as

  • Eloá Moura Galvão Centro Universitário AdventistaSão Paulo, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.56487/dl.v21i2.1035

Palabras clave:

Daniel 8 – Intertextualidade – Ezequiel – Isaías – Levítico 16

Resumen

A presente pesquisa aborda Daniel 8 a partir de uma leitura atentiva (close reading) dotexto e da abordagem de análise intertextual proposta por Gérard Genette em sua obraPalimpsestos. O foco principal da investigação se limitou à busca dos possíveis intertextosdesse capítulo de Daniel e à análise de como eles se manifestam na sua trama textual.Por fim, se explora brevemente as possíveis implicações desses intertextos para a compreensãodas temáticas da força profanadora do santuário e do juízo divino em Daniel 8.

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Citas

Para Scheetz, intertextualidade canônica é “the dialogue inherent in the canonical text because of the canon and canonical process”. Nessa abordagem, “texts exegete one other through their order and overall placement together, giving a big Picture that would not have been possible if textual units had been left by themselves”, ver Jordan M. Scheetz, The concept of canonical intertextuality and the book of Daniel (Cambridge, GB: James Clarke & Co, 2011), 33-34.

Gérard Genette, Palimpsestos: a literatura de segunda mão (Belo Horizonte, BR: Viva Voz, 2010), 13-20.

Em seu estudo intertextual do livro de Daniel, Scheetz dedica poucas páginas ao oitavo capítulo. Da mesma forma, Kim em sua tese doutoral nem sequer trata do capítulo; ver Scheetz, The concept of canonical intertextuallity and the book of Daniel; Daewoong Kim, “Biblical interpretation in the book of Daniel: Literary allusions in Daniel to Genesis and Ekeziel” (tesis doutoral, Rice University, Houston, Texas, 2013).

Scheetz, The concept of canonical intertextuality and the book of Daniel, 97.

Ibid., 97-103.

Ibid., 106, 110-115, 121-126.

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Johann P. Lange et al., A commentary on the Holy Scriptures: Daniel (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2008), 2, 5.

Goldingay, Daniel, 203, 208-209.

“The vision is located at a gate opening toward a waterway, in the tradition of Ezekiel’s vision by the Kebar canal (cf. 10:4; 12:5-7; 1 Enoch 13:7-8; also Pharaoh’s dream set at a river, Gen 41); it presupposes a visionary journey such as Ezekiel also experienced”; ver ibid., 208.

Ibid., 203.

Ibid., 208-209.

Newson, Daniel, 260, 265, 268-269.

Norman W. Porteous, Daniel: A commentary, The Old Testament Library (Philapelphia, PA: The Westminster Press, 1965), 124.

Goldingay, Daniel, 202-203.

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Gowan, Daniel, 80.

Newson, Daniel, 264.

Goldingay, Daniel, 202-203, 209.

Jacques B. Doukhan, The vision of the end (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1987), 17-31; Jacques B. Doukhan, Segredos de Daniel: Sabedoria e sonhos de um príncipe no exílio (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018), 125-138; William H. Shea, Daniel: A reader’s guide (Nampa, ID: Pacific Press, 2005), 182-195; C. M. Maxwell, Uma nova era segundo as profecias de Daniel, 2ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 185-186; G. F. Hasel,

“O ‘chifre pequeno’, o santuário celestial e o tempo do fim: Um estudo de Daniel 8:9-14”, em Estudos sobre Daniel: Origem, unidade e relevância, ed. por F. B. Holbrook (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2009), 315-343; Elias B. Souza, O livro de Daniel: Uma profecia para o nosso tempo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), 80-88.

“Puede parecer extraño, al principio, llamar la atención hacia el libro de Levítico en medio de una discusión sobre un libro profético como Daniel. Levítico es un libro de leyes, no profecía. Pero cuando uno considera la naturaleza del contenido de esta profecía, puede verse con mayor claridad cómo estas dos fuentes se conectan. Se conectan a través del Santuario. Daniel 8 es, en última instancia, una profecía acerca del Santuario. Levítico es un libro de leyes y regulaciones de lo que sucedía en el Santuario terrenal. Por lo tanto, hay una conexión natural, lógica entre estos dos libros, y ese enlace se ve reforzado por la naturaleza de los símbolos utilizados en Daniel 8”. Ver William Shea, Daniel: Una guía para el estudioso, ed. por Miguel Valdivia, 1ª ed. (Buenos Aires, AR: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2010), 188.

Ver Shea, Daniel, 189; e Hasel, “O ‘Chifre pequeno’, o santuário celestial e o tempo do fim”, 343.

Hasel, “O ‘Chifre pequeno’, o santuário celestial e o tempo do fim”, 343.

Doukhan, Segredos de Daniel, 129-130.

Ibid., 130.

Ibid.

Ibid.

“Undoubtedly this special concern to isolate and underline the association of the two animals (the ram and the goat) in order to covey a hint of the Day of Atonement was to prepare the ground for the follow-up. Indeed, in the extension of this passage, at the climax of the vision, there is a direct reference to the Day of Atonement. The prophet speaks in Daniel 8:14 of the cleansing of the sanctuary. It is significant that the obscure expression niṣdaq, which literally means ‘be reinstated in its rights,’ has been translated by the Septuagint as the ‘cleansing’ (katharisthesetai) of the sanctuary. The scholars of the Septuagint had understood this passage as a reference to the Day of Atonement, the very day when the sanctuary was cleansed (Lev. 16:19, 30)”. Ver Doukhan, The vision of the end, 29.

Souza, O livro de Daniel, 80.

Ibid.

Ibid.

Ibid., 79.

A datação de Daniel para o período dos Macabeus (2° séc. A. E. C) é comumente aceita no meio acadêmico. No entanto, dados históricos, linguísticos e textuais favorecem mais a datação do livro para o período do exílio babilônico (6° séc. A. E. C). Alguns desses dados são: primeiro, o extenso e preciso conhecimento histórico do autor de Daniel ao citar, por exemplo, Nabucodonosor como o construtor da Babilônia (Dn 4,30) e o rei Belsazar (Dn 5) como rei corregente no final do império neobabilônico, informações essas de impossível acesso a um escritor do 2° séc. A. E. C e que foram comprovadas por descobertas arqueológicas relativamente recentes; segundo, é altamente improvável que os manuscritos de Daniel descobertos em Qumran, se produzidos no 2° séc. A. E. C, tivessem sido aceitos pela comunidade e copiados juntamente com os outros livros do AT menos de cinquenta anos após sua composição; terceiro, o aramaico de Daniel é basicamente o mesmo de Esdras e do aramaico do séculos VI e V, não se conformando com amostras posteriores da língua. Para uma discussão mais detalhada, cf. Miller, Daniel, 22-43 e Hasel, “Estabelecendo uma data para Daniel”, 67-131.

Entre os intertextos não canônicos de Daniel 8 que são evocados no meio acadêmico, se destacam: 1) os livros de 1 e 2 Macabeus (ver Hartman e Di Lella, The book of Daniel, 43-44; Goldingay, Daniel, 207-219; Miller, Daniel, 228; Newsom, Daniel, 262-273); 2) o apocalipse de 1 Enoque (ver Hartman e Di Lella, The book of Daniel, 62-63; Goldingay, Daniel, 200; Newsom, Daniel, 258, 263, 268); e fora do contexto judaico no Antigo Oriente Médio), 3) o Zodíaco, segundo o qual a Pérsia estaria sob signo do carneiro e a Síria (império selêucida) sob o do bode, e os omens babilônicos para o simbolismo dos chifres (ver Goldingay, Daniel, 208-209; John H. Walton, Victor H. Matthews e Mark W. Chavalas, Comentário histórico-cultural da Bíblia: Antigo Testamento [São Paulo, BR: Vida Nova, 2018], 966).

Scheetz, The concept of canonical intertextuality and the book of Daniel, 103.

Genette, Palimpsestos, 14.

Em Daniel 8, a descrição dos versículos 14 e 26 distinguem a visão das 2300 tardes e manhãs de todo o restante da visão apresentada no capítulo, por meio da diferenciação no uso dos termos marʾeh e ḥāzôn. A explicação para a ḥāzôn é dada nos versos 18-25, enquanto a marʾeh deve ser preservada pelo profeta sem uma interpretação clara. Em Daniel 9,23, Gabriel vem com a missão de fazer o profeta entender a marʾeh das tardes e manhãs (Dn 8,14): “... considera, pois, a coisa e entende a marʾeh.”

Genette, Palimpsestos, 60.

Souza, O livro de Daniel, 231-233.

A expressão “alturas do Zafom” (o extremo norte) é “uma expressão idiomática que designa as alturas celestiais da habitação de Deus”, conforme ocorre em Isaías 14,13 e também em Salmos 48,1-2. Seu paralelo com o “monte da congregação” traz a ideia de um santuário celestial; ver Doukhan, Segredos de Daniel, 183.

Newsom, a partir de seu ponto de vista, também notou as diferenças existentes entre Daniel 8 e Isaías 14, sugerindo ou que Daniel usou outra versão desconhecida daquilo que ela considera ser o “mito” de Isaías ou que o autor de Daniel teria feito acréscimos ao mesmo; ver Newson, Daniel, 264.

Genette, Palimpsestos, 14.

Ver Goldingay, Daniel, 203. Newson (Daniel, 260) também evoca o intertexto de Ezequiel 34,17.

Hartman e Di Lella, The book of Daniel, 229.

Para tal discussão, cf. Harold P. Dressler, “The identification of the Ugaritic Dnil with the Daniel of Ezekiel”, Vetus Testamentum 29, n. 2 (1979): 152-161; Lamar Eugene Cooper, Ezekiel, The New American Commentary 17 (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1994), 163-164.

Ver Cooper, Ezekiel, 57; Samuel J. Schultz, “Ezequiel: Atalaia de Israel”, em A história de Israel do Antigo Testamento (São Paulo, BR: Vida Nova, 2009), 423.

Genette, Palimpsestos, 14.

Ibid., 17.

Ibid., 14.

Doukhan, Segredos de Daniel, 130.

Sobre o uso dessa expressão idiomática “nas extremidades do Norte” (יַרְכְּתֵי צָפוֹן), cf. Souza, O livro de Daniel, 225-242 e Doukhan, Segredos de Daniel, 183.

Essa relação intertextual mais implícita de “pecado, profanação do santuário e contaminação” provavelmente pode estar na base da leitura feita do texto de Daniel 8,14 na Septuaginta onde נִצְדַּקוְ (“será justificado, será vindicado”) é traduzido por καθαρισθήσεται (“purificar”), indicando uma correlação de Daniel 8 e Levítico 16 na compreensão do tradutor.

Davidson, “The meaning of Nisdaq in Daniel 8:14”, 116.

Hasel, “O ‘chifre pequeno’, o santuário celestial e o tempo do fim”, 311-381.

Conforme reitera Souza, “os livros mencionados em conexão com o juízo provavelmente sejam os livros de registros, ‘nos quais estão relatados os nomes e ações dos homens’. As Escrituras mencionam o ‘Livro dos vivos’ (Sl 69:28[29]), o livro ‘como memorial’ (Ml 3:16, NVI; ver Ne 13:14) e o livro de Deus (Êx 32:32; Sl 56:8)”; cf. Souza, O livro de Daniel, 75.

Young também apresenta que a provável data da visão seria no dia 10 de Tishri de 574 a. C. Por sua vez, os estudiosos Cooper e Dyer entendem que a data mais provável seria 22 de outubro de 573 a. C. Os estudiosos citados afirmam que essa também seria a data de um Jubileu: ver Young (2006, pp. 266-283); Cooper, Ezekiel, 355; C. H. Dyer, “Ezequiel”, em The Bible knowledge commentary: An exposition of the scriptures, vol. 1, ed. por J. F. Walcoord e R. B. Zuck (Wheaton, IL: Victor Books, 1985), 1304.

Cf. E. Carpenter e M. A. Grisanti, “פֶּשַׁע”, em Novo dicionário internacional de teologia e exegese do Antigo Testamento 3, org. W. A. Vangemeren (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011), 1129.

Wright e Leal defendem que, levando em consideração o contexto bíblico e o pano de fundo cultural, a melhor compreensão do termo hebraico עֲזָאזֵל (‘ăzā’zēl) seria a de um nome próprio (“Azazel”) em referência a um ser sobrenatural e demoníaco; ver David Wright, “Azazel”, em The Anchor Bible dictionary, ed. por D. N. Freedman (New York, NY: Doubleday, 1996), 536; J. M. Leal, “Bodes ou demônios: uma nota sobe o termo ‘azāzēl em Levítico 16:8”, Revista de Teologia e Ciência da Religião da UNICAP 4, n. 1 (2014): 349-351.

William H. Shea, “Dimensões especiais na visão de Daniel 8”, em Estudos sobre Daniel: Origem, unidade e relevância, ed. por F. B. Holbrook (Engenheiro Coelho, BR: Unaspress, 2009), 411.

Publicado

2022-09-06

Número

Sección

Artículos