A linguagem de pureza em Apocalipse 14,4

Autores/as

  • Edcarlos V. Menezes

Palabras clave:

Apocalipse, 144.000, Escatologia, Pureza

Resumen

Em Apocalipse 14,1-5 João descreve os seguidores de Jesus sob o símbolo dos 144.000. Nessa descrição ele usa a linguagem de pureza para contrastá-los com os seguidores da Besta e adoradores da sua imagem. Em 4,4 eles são descritos como “os que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens”. Essas palavras são consideradas enigmáticas e estão entre as de mais difícil elucidação em todo o livro do Apocalipse. Esse estudo é uma análise exegética dessa passagem, que utiliza o método Close Reading, a fim de elucidar o significado da pureza sexual dos 144.000. A análise do contexto literário e linguístico, bem como da estrutura da passagem e dos temas e palavras nela presentes sugerem que João usou essa linguagem para enfatizar o tema da pureza moral e espiritual que os seguidores de Jesus devem desenvolver no tempo fim.

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Citas

Entre os autores que enfatizam a dificuldade de interpretação desse texto estão: W. Bousset,

Die Offenbarung Johannes (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1906), 146; G. B. Caird,

A Commentary on the Revelation of Saint John the Divine (Peabody, MA: Hendrickson, 1966)

; Isbon T. Beckwith, The Apocalypse of John (Grand Rapids, MI: Baker, 1967), 653; Ruben

Zimmermann, “Die Virginitäts-metapher in Apk 14:4-5 im Horizont von Befleckung, Loskauf

und Erstlingsfrucht“, Novum Testamentum 45 (2003): 45-70, entre outros.

Hanna Stenström, “‘They Have Not Defiled Themselves with Women’: Christian Identity According

to Book Revelation”. Em Amy-Jill Levine, Maria M. Robbins, A Feminist Companion to

the Apocalypse of John (London: T&T Clark, 2009), 33-54.

Para excelentes sínteses do debate acerca das diversas opiniões, ver Louie Jeffrey, An Expositional

Study of the 144,000 in the Book of the Revelation (tese doutoral, Dallas Theological Seminary,

, 76-109; Grant R. Osborne, Revelation, Baker Exegetical Commentary on the New Testament

(Grand Rapids, MI.: Baker Academic, 2002), 528-532; Craig R. Koester, Revelation,

Anchor Yale Bible 38A (New Haven-London: Yale University Press, 2014), 606-622.

Para a defesa dessas opiniões, ver respectivamente: Adela Yarbro Collins, The Apocalypse (Wilmington:

Michael Glazier, 1979); J. Massingberd Ford, “The Meaning of ‘Virgin’”, New Testament

Studies, 12, n.o 3 (1966): 293-299; Philip Carrington, The Meaning of the Revelation, (Eugene,

OR: Wipf & Stock, 2007).

Stenström (“They Have Not Defiled Themselves with Women”) sugere que tanto as imagens femininas

quanto a linguagem de pureza sexual são usadas para construir uma identidade cristã em oposição ao discurso romano dominante, que enfatizava que os homens reais eram sexualmente

ativos.

Lynn R. Huber, “Sexually Explicit? Re-Reading Revelation’s 144.000 Virgins as a Response to

Roman Discourses”, Journal of Men, Masculinities and Spirituality 2, n.º 1 (2008): 3.

Daniel Olson, “‘Those Who Have Not Defiled Themselves with Women’: Revelation 14:4 and

the Book of Enoch”, Catholic Biblical Quarterly 59, n.º 3 (1997): 492-510.

Reinaldo Siqueira, “The ‘Sons of God’ in Genesis 6:1-4”, Kerygma 1, n.° 2 (2005): 48-57.

Ranko Stefanovic, “What is the State of the Last Generation?”. Em Jiri Moskala, John Peckham,

ed., God’s Character and the Last Generation (Nampa, ID: Pacific Press, 2018), 219-235. Essa

abordagem foi primeiro proposta por George B. Caird, A Commentary on the Revelation of

Saint John the Divine (Peabody, MA: Hendrickson, 1966), 179, e foi posteriormente refinada

por Richard Bauckham, The Climax of Prophecy: Studies on the Book of Revelation (London:

T&T Clark, 2007), 229-232. É a que tem mais adepto entre os eruditos mais modernos do

Apocalipse.

J. Massingberd Ford, “The Christological function of the hymns in the Apocalypse of John”,

Andrews University Seminary Studies, v. 36, n° 2 (1998): 207-229. Segundo Ford as imagens do

Cordeiro no livro do Apocalipse evocam as figuras da expectativa messiânica no período

do Novo Testamento. Entre elas está a imagem do Messias Guerreiro que viria para libertar o

seu povo. Para mais sobre a expectativa messiânica no período do Novo Testamento, ver Craig

S. Keener, “Messianic Expectation”, prepared for “Expectation and Human Flourishing”, Yale

Center for Faith and Culture, New York City, June 22, 2015; Joseph A. Fitzmyer, Essays on the

Semitic Background of the New Testament (Missoula, MT: Scholars Press, 1974); ibíd., The Dead

Sea Scrolls and Christian Origins (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2007), 73-110; John J. Collins,

Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls (London: Routledge, 1997), 223-224.

“Apocalipse 14:1-4 é análogo a Apocalipse 7, na localização do discurso e na estrutura e na função,

bem como nos detalhes léxico e semântico. A passagem consiste em uma visão, uma audição

e uma explicação, mas juntos apresenta um contraste dramático e irônico à cena retratada no

capítulo 13”. Stephen Pattemore, The People of God in the Apocalypse: Discourse, Structure, and

Exegesis (Cambridge: Cambridge University Press, 2008), 179.

Olson, Those Who Have Not Defiled Themselves with Women, 495.

Pattemore, The People of God in the Apocalypse, 179.

David L. Mathewson, Revelation: A Handbook on the Greek Text (Waco, TX: Baylor University

Press, 2016), 185.

Durante estes dez dias, o povo de Israel devia se preparar para o grande dia da expiação, que era o

dia do juízo para o povo de Deus. Cf. Jacques B. Doukhan, Secretos del Apocalipsis: El Apocalipsis

visto a través de ojos hebreos (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2008).

Durante esse tempo o povo de Deus na terra deve não só se preparar para o juízo, mas também

anunciá-lo ao mundo (14,6-12). É digno de nota o fato de que após essa alusão ao dia do juízo

em 11,19, o tema do juízo passa a ser o tema dominante no restante do livro (Ap 12-20).

O chamado “... adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (14,7) é uma

alusão a Êxodo 20,11 e ao mandamento que ordena santificar o sábado do sétimo dia como um

memorial da criação e sinal de obediência e fidelidade a Deus. Isso sugere que a obediência a esse

mandamento também será desafiada na crise final. Para mais sobre a controvérsia envolvendo os

mandamentos de Deus no Apocalipse e o papel que o mandamento do sábado desempenhará

na crise final, ver Anthony MacPherson, “The Mark of the Beast as a ‘Sign Commandment’ and

‘Anti-Sabbath’ in the Worship Crisis of Revelation 12-14”, Andrews University Seminary Studies

, n° 2 (2005): 267-283; Jon Paulien, “Revisiting the Sabbath in the Book of Revelation”, Journal

of the Adventist Theological Society 9, n° 1-2 (1998): 179-186; João Antônio Rodrigues Alves,

“O Sábado no Apocalipse e sua relação com a crise final”, DavarLogos (2010): 59-67.

O termo τὸ ἀρνίον (o Cordeiro) é tipicamente um título Joanino para Jesus. Ele aparece 30 vezes

no Novo Testamento, dessas, 29 no Apocalipse (Ap 5,6.8.12-13; 6,1.16; 7,9-10.14.17; 12,11;

,8.11; 14,1.4[2x].10; 15,3; 17,14[2x]; 19,7.9; 21,9.14.22-23.27; 22,1.3) e uma vez em João

,15. Stephen S. Smalley, The Revelation to John: A Commentary on the Greek Text of the Apocalypse

(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2015). Elliott chama a atenção para o significativo

fato de que as referências em 5,6 e 13,11 são anartras. Ver J. K. Elliott, “Revelations from the

Apparatus Criticus of the Book of Revelation: How Textual Criticism Can Help Historians”,

Union Seminary Quarterly Review 63, n° 3, 4 (2012): 1-23. Do ponto de vista da crítica textual,

a presença do artigo τὸ antes de ἀρνίον em 14:1 é fortemente apoiada por א A C, entre outros

testemunhos. Ver Bruce Metzger, Un comentario textual al Nuevo Testamento griego, traduzido

por Moisés Silva e Alfredo Tepox (Brasil: Sociedades Bíblicas Unidas, 2006), 670

Koester, Revelation, 607.

O monte Sião é visto na Bíblia hebraica como o centro do governo de Deus no reino messiânico

(Sl 2,6; 48,1-2; Is 24,23; Mq 4,7) e também como o lugar da libertação e da vitória final do povo

de Deus (Is 59,20; Jl 2,32, Ob 17). No Novo Testamento o Monte Sião é chamado de “a cidade

do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hb 12,22). Ranko Stefanovic, La Revelación de Jesucristo:

Comentario del libro del Apocalipsis (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2013), 444.

Para mais detalhes sobre o significado teológico dos hinos do Apocalipse, ver Stephen N. Horn,

The Author’s Use of Hymns as Summaries of Theology of the Book Revelation (tese doutoral, New

Orleans Baptist Theological Seminary, 1998); ibíd., “Halleluiah the Lord our God, the Almighty

Reign: The Theology of Hymns of Revelation”. Em Gerald L. Stevens, ed., Essays on

Revelation: Appropriating Yester-day’s Apocalypse in Today’s World (Eugene, OR: Pickwick Publications,

, 41-54; Edcarlos V. Menezes, Deus nos hinos do Apocalipse: Seu caráter e obras (dissertação

de mestrado, Faculdade Adventista da Bahia, 2013); Steven C. Grabiner, Revelation’s

Hymns: Commentary on the Cosmic Conflict (tese doutoral, University of South Africa, 2013).

Ver especialmente Sl 33,3; 40,3; 96,1; 98,1; 144,9; 149,1; Is 42,10.

Sung K. Kim, Psalms in the Book of Revelation (tese doutoral, University of Edinburgh, 2013),

O uso de ἠγορασμένοι no verso 3 parece apoiar essa ideia, pois faz alusão ao hino em 5,9-10 que celebra o Cordeiro por sua obra de salvação: “e entoavam novo cântico, dizendo: Digno

és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste

(ἠγόρασας) para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus

os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra”.

Mario Veloso, Apocalipsis y el fin del mundo (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana,

, 172.

A imagem das primícias aqui invoca imagens do santuário do Antigo Testamento com seus

sacrifícios. O termo ἀπαρχὴ aparece somente aqui na literatura joanina. É comumente usada

na LXX para se referir a ideia de sacrifício (Êx 23,19; Lv 2,12; Dt 26,2.10) e sugere a

promessa de que algo mais que virá posteriormente, mas o que está sendo oferecido foi

separado e santificado para Deus. Seu uso aqui sugere a ideia de total consagração a Deus e

ao Cordeiro.

“Esta é concebivelmente a linguagem de discipulado mais evidente em todo o livro”. Keith T.

Marriner, David R. Beck, Following the Lamb: The Theme of Discipleship in the Book of Revelation

(Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 2016), 214-215.

Johannes P. Louw y Eugene A. Nida, Greek-English Lexicon of the New Testament: Based on

Semantic Domains, 2 ed., 2 vols. (New York: United Bible Societies, 1989), sv μολύνω.

A Bíblia Hebraica apresenta programas para definir, alcançar e manter a pureza sexual (Nm

,11-31; Dt 24,1-4; Lv 18; Ed 9). Tais orientações tem um certo foco no culto do templo e nos

sacerdotes. Ver Eve S. Feinstein, Sexual Pollution in the Hebrew Bible (tese doutoral Harvard

University, Cambridge, Massachusetts, 2010); Archie T. Wright “Jewish Identity, Beliefs and

Practices”. Em Joel B. Green, Lee M. McDonald, The World of the New Testament: Cultural,

Social, and Historical Contexts (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2013), 310-324. Para os membros da comunidade de Qumran, a pureza efetuada pelos rituais de purificação física, por

meios das abluções, era necessária para a participação no culto. Eles evitavam estritamente as

relações sexuais devido aos problemas de impureza causados pelo sêmen. Ver Hannah K. Harrington,

“The Halakah and Religion of Qumran”. Em John J. Collins y Robert A. Kugler, Religion

in the Dead Sea Scrolls (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 2000), 79; J. Baumgarten,

“Liquids and Susceptibility to Defilement in New 4Q Texts”. Em Ulrich e J. VanderKam, eds.,

The Community of the Renewed Covenant (Notre Dame, IN: University of Notre Dame Press,

, 98.

H. R. Balz y G. Schneider, Exegetical Dictionary of the New Testament, 3 vols. (Grand Rapids,

MI: Eerdmans, 1993), 3:40.

Pattemore, The People of God in the Apocalypse, 186. Na Bíblia Hebraica a prostituição é um

símbolo recorrente da apostasia espiritual (cf. Jr 3,1-10; Ez 23,1-21; Os 1-2). Newton, nota que

a licenciosidade sexual e a idolatria eram consideradas pelos judeus como sendo os pecados característicos

dos gentios. A própria impureza sexual tem conotações morais e rituais das quais os

fiéis de Deus devem se guardar. Michael Newton, The Concept of Purity at Qumran and in the

Letters of Paul (Cambridge: Cambridge University Press, 2005), 31.

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Publicado

2020-12-30

Número

Sección

Artículos